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Pequena biografia ...

Foto do escritor: Sofia RamosSofia Ramos

"Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, Ou metade desse intervalo, porque também há vida... Sou isso, enfim... Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor. Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo. É um universo barato."

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Heterónimo de Fernando Pessoa

O que eu desejo ser é bem diferente do que sou, até posso escrever o que acho ser, mas não quer dizer que o seja. O que fui um dia posso dizer com certeza que já não sou mais, e se é que algum dia já o fui. O que eu já vivi levo comigo como aprendizado. Nos 19 anos da minha vida já vivi muito em pouco tempo. Já sonhei, já caí, já cresci, voltei a sonhar, voltei a crescer, voltei a cair e vou viver eternamente neste ciclo vicioso, porque este ciclo é a minha vida.

Viver e aprender com os nossos erros. Parar de sonhar é morrer. Sonhar é o que sou, porque é o que me resta fazer para ser livre do mundo hipócrita onde estou presa, onde tenho a falsa ideia de que sou livre. Gostava de poder dizer que sou infeliz na rede de mentiras e crueldades que é o mundo, mas a verdade é que não sou, eu vivo feliz. Sou feliz. E quanto mais penso nisso mais vejo o quão iludida sou, porque a felicidade não passa de uma ilusão mas todos nós acordaremos dessa ilusão, em algum momento batemos de cara com a realidade que é a tristeza. Neste momento enquanto escrevo consigo ver o quão o ser humano é egoísta, o quanto eu sou egoísta.

Já alguma vez pensaram como é que as pessoas conseguem ser felizes num mundo tão horroroso? Ou como é que nós, como seres humanos que somos, conseguimos ser felizes por cima da infelicidade dos outros? Bem eu estou a pensar nisso neste momento enquanto escrevo. Além de sonhar para voar para fora deste mundo eu gosto de escrever. O papel é o meu amante nas horas de raiva, tristeza e mágoas. Um bom companheiro quando mais ninguém me escuta, eu sei que ele vai estar ali para me ouvir e partilhar o peso que carrego nas costas. Ele tornou-se meu amigo no 4° ano quando o meu pai adoeceu, foi diagnosticado com tuberculose, eu tinha 10 aninhos quando eu achei que ia perder umas das pessoas mais importantes para mim, o meu pai, a minha força, o meu suporte de apoio, uma das três pessoas mais importantes da minha vida Mas ainda bem que eu fiz esse novo amigo, ele esteve sempre lá para mim quando eu queria escrever o que sentia ou quando eu escrevia cartas para o meu pai a dizer o quanto o amava ou as saudades que tinha dele, já que não o podia ver. Foi uma das piores fases da minha vida, eu não sei o que faria sem o meu pai. Porque eu sou quem sou graças aos meu pais tudo que sou, tudo o que eu tenho, eu agradeço a eles. Desde os meus primeiros passos eles tiveram lá para a minha primeira queda e eu sei que posso cair, mas eles estarão lá para me amparar. E eu espero que um dia se for preciso, eu também os consiga amparar. Dos 12 até aos 16 anos a minha vida foi calma sem muitas aventuras. Escola, casa, escola, era a minha rotina diária, tinha poucos amigos. Falava mais com os professores do que com as pessoas da minha idade. Quando passei para o 10° ano a minha vida deu um giro de 180 graus, conheci várias pessoas que mudaram por completo a minha vida. Foi aí que a minha adolescência começou. As saídas à noite, as escapadelas para Lisboa e Setúbal, as idas à praia... As "Friday girls" foram criadas por nós as três (eu e mais duas amigas minhas) todas as sextas-feiras à noite tínhamos de fazer alguma coisas juntas, nem que fosse apenas beber um café, mas tínhamos de passar a sexta à noite juntas. A meio do décimo ano uma das minhas amigas desistiu da escola, eu nunca entendi bem porquê, mas continuamos unidas. Quando começou o décimo primeiro ano eu fiz uma inscrição para o grupo de teatro da escola que era coordenado pela professora de Português, aí conheci a malta mais, passo a expressão, louca da minha vida. O clube de teatro foi bem importante para mim, e quando nós conseguimos fazer a peça "O auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente", foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Eu tinha encontrado uma segunda família, pessoas com objetivos completamente diferentes dos meus, maneiras diferentes de pensar e ver as coisas, não havia ninguém igual a ninguém era um grupo tão diversificado e mesmo assim conseguiamos se entender todos bem, foram uns dos momentos mais felizes da minha vida. Lembro-me tão bem que no final da peça quando as cortinas se fecharam e ouviram-se os aplausos do público nós abraçamo-nos uns aos outros a comemorar. Com o dinheiro dos bilhetes da peça tivemos uma grande ajuda para a nossa viagem a Bruxelas que foi feita pela turma de Economia (a minha turma) e a turma de Humanidades. Uma das coisas que mais me marcou nessa viagem foi que ninguém queria pagar os bilhetes do metrô, então o que aconteceu foi que passaram 28 pessoas com um único bilhete.

Nesse verão eu e uma das minhas amigas fomos trabalhar juntas para o Carvalhal, duas adolescentes (de 17 anos) a viverem sozinhas num quarto. O que poderia correr mal? Nada, foi o que eu pensei, mas o Karma está sempre lá não é?

Então, depois do trabalho nós decidíamos ir passear a Setúbal, Lisboa... corríamos tudo. Bem, à pergunta, e o que correu mal? Entre muitas coisas que fizemos eu fui detida para prestar declarações e a minha amiga ficou noiva e agora é casada atualmente já nem nos falamos mais. Se eu mudava alguma coisa do que fiz até aqui? Não, nem uma única vírgula, posso ter feito muita coisa errada, mas essas coisas erradas tornaram-me na pessoa que sou. E eu tenho orgulho, orgulho de poder dizer que já fiz muita coisa, já vi muita e quero fazer muita, a vida são dois dias e eu quero aproveitar tudo o que posso até ao último segundo.

Se eu tenho objetivos? Tenho.

 
 
 

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